terça-feira, 26 de junho de 2007

Uma educação familiar que fabrica marginais


Do blog do Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja.

Acabo de ver no Jornal Nacional um troço escandaloso.

Uma empregada doméstica foi roubada e espancada por cinco jovens de classe média alta no Rio, quatro deles universitários — um é estudante de direito. Quatro já foram presos. O pai de um dos detidos deu uma entrevista depois de se desculpar com a vítima. E não teve dúvida: “É injusto manter crianças que estudam na cadeia”. As “crianças” a que se refere são maiores de idade, estavam num automóvel, voltavam de uma boate.

Não faltará quem veja na ocorrência uma espécie de derivação da crueldade dos ricos contra os pobres, mais um capítulo de uma espécie de arranca-rabo de classes. Bobagem! Não guardei o nome do pai — vou procurar depois no site do JN. Mas o que eu vi ali foi o resultado de algumas décadas de educação laxista, que prolonga indefinidamente a adolescência dos marmanjos, fazendo deles seres inimputáveis: podem quebrar, espancar, invadir, consumir drogas, fazer qualquer coisa. Eles têm direito à balada. E isso vale para qualquer classe.

Já o pai da empregada, um homem simples, disse o óbvio: há pais, hoje em dia, que não querem saber onde estão seus filhos e o que eles fazem. Na mosca! Por isso, ele criou uma mulher decente, que trabalha e ganha a vida honestamente. Enquanto o outro está implorando impunidade para o seu marginal chique.

8 comentários:

Unknown disse...

Vê-se que a sociedade está se deteriorando! Sem princípios, sem cultura, sem moral...não há Valores fundamentais que a sustentem, então como esperar que haja um ordenamento jurídico capaz de manter a ordem?
A lacuna que, teoricamente, não existiria entre "direito positivo" e a Justiça fica cada vez mais evidente, e vemos "essas" e outras injstiças acontecerem sem que nada possamos fazer!

Anônimo disse...

Meu caro Juiz,

Realmente é estarrecedor. Tipo de situação que causa embrulho no estômago de qualquer cristão.
Já um primeiro pai havia sido entrevistado, dizendo que não podia fazer nada. Esse, segundo consta, foi até baleado na delegacia, num bafafá após seu depoimento. É sempre assim: lavam as mãos pelo fato em si, mas não perdem a oportunidade de arcarem com as despesas na contratação de causídicos de renome para a defesa de suas pequenas feras.
E elas sempre voltam a atacar. São reincidentes. Ontem uma empregada doméstica, amanhã um mendigo, ou, se derem sorte, um índio dormindo no banco da praça.
Afinal, sempre dão dinheiro para baladas e carros do ano para as crianças se divertirem após uma semana de labuta intensa.
A fala mansa e inteligente do pai da garota foi, ao mesmo tempo, uma lição de humildade e um alerta para as famílias.
Na mosca!
Uma boa semana para o amigo juiz.
Que Deus nos ilumine!

Pietra Carreras


PS. Gostaria de sugerir duas pautas, se isso for possível:
1. Se há aplicação da Lei Maria da Penha (por analogia) em casos de "casamentos" entre pessoas do mesmo sexo.
2. o desgaste emocional dos oficiais de justiça no cumprimento de mandados de penhora, arresto, etc, no caso de pessoas pobres.
Creio que me fiz entender.
Obrigada.
Pietra Carreras

Anônimo disse...

Acabo de ver o taquipratí incluso.
Ótimo, irônico até "a morte".
Se a ironia é uma forma elegante de ser mau, ele é um dos melhores-piores irônicos que eu ja vi junto com o Mainardi da Veja.Já tive até dores de tanto rir.
O problema são os "ironizados" ah, esses querem matá-lo.Num artigo bem antigo ele "relembrou" uma viagem do Amazonino com o alferes Tiradentes a New York. Nessa viagem o hoje radialista "traduzia" para o serviço de quarto usando "among' e "between" para dizer "entre!" O resto podemos imaginar. Ele é destruidor. Belão, Robério e tantos outros que o digam.Abraços Excelente escolha, ótima leitura.

Anônimo disse...

Ah, lembrei-me o radialista convidou-o para trabalharem juntos na rádio e ele, (Ribamar) nem deu bola.

Carlos Zamith Junior disse...

À Lorena e Pietra: o discurso de cocês não está muito pessimista?
À Pietra: minha experiência indicar que vamos aguardar um bom tempo para o tema ganhar repercussão na imprensa e, por consequência na sociedade.
Rrecordo-me da questão da mulher grávida de bebê anencefálico, se poderia ou não interromper a gravidez. Faz algum tempo, num dos muitos plantões em que trabalhei, recebi um pedido desses. Imagino que tal dilema tenha afloradoe com constância na raia miúda do judiciário, nós juízes de primeiro grau. Entretanto, o assunto somente veio a destaque recentemente, quando alcançou o STF.
Assim será em relação à lei Mria da Penha e a possibilidade da sua aplicação quando o casal for de pessoas do mesmo sexo. Agora, Pietra, um palpite (não uma resposta jurídica): entendo perfeitamente possível a aplicação da lei na situação por vc exposta, afinal, se nessa relação de pessoas do mesmo sexo existir uma parte mais "fraca", devemos proteger essa parte. É questão de justiça. E justiça e direito devem andar de mãos dadas.
Mas, enfim, o debate está aberto.
PS. Perdoem-me a demora em responder os comentários. Imprevistos.
Abraços às duas.

Carlos Zamith Junior disse...

Viajante, concordo com vc até a última letra digitada. E olha que injustiça. Ele estava entre meus favoritos ja fazia tempo.
Abraços.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Prezado, não sou de todo pessimista. Creio que as bases das instituições podem até apodrecer, mas sempre escaparão pessoas imbuídas de bons propósitos.
O ensino está ruim? E inegável que sim. Só não posso dizer que todos os professores não prestam. Há juízes envolvidos com máfias? São muitos? Claro!
Porém, já juízes e juízes. Há senadores e senadores. Enfim, sobra uma réstia de esperança, embora a coluna do bem esteja numericamente inferior.
O que machuca não é, pura e tão somente, ver o rosto daquela moça cheio de hematomas; não é ver as lágrimas dos pais do menino arrastado pela rua do Rio de Janeiro, nem o possível desespero do garoto de 7 anos que viu os pais serem mortos em São Paulo e sair gritando: papai, mamãe...
O que dilacera é ver a paralisia do Estado. É ouvir palavras simplistas e simplórias do dirigente maior, que compara a Suiça, a Suécia ou a Dinamarca com a república que dirige, como se todos fôssemos um magote de estúpidos. E ainda só sabe dar exemplo de futebol, como se estivéssemos todos num grande estádio, assistindo uma partida onde ele só faz gols. É possível que esteja dando o máximo de si, ou fazendo o seu melhor (como costumam afirmar os jogadores), não discuto isso, mas o seu despreparo vem contribuindo, em muito, com o status quo reinante.
Acho que nos está faltando paciência, e sobrando corrupção.
Isso atrapalha a esperança e danifica o otimismo.
Um grande abraço.
Pietra Carreras.

PS. Gesto bonito o da Juíza. Ela é da coluna do bem. É uma voz que pode ecoar.