sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Pobre Salatiel

Muito embora lide com milhares de processos, consigo guardar os nomes de quase todos os meus réus. A tarefa é facilitada pela grande quantidade de neurônios que ainda estão em atividade no meu cérebro e mais ainda é forte a lembrança quando se trata de algum nome exótico ou cheio de firula, que pais empolgados escolhem para seus filhos.

Ontem, por exemplo, realizei uma audiência com um acusado chamado Josephher. À primeira vista, pensei tratar-se de algum aristocrata americano, mas na verdade é um "nativo" amazonense, morador do bairro Zumbi, respondendo a uma bisonha acusação de furto.

Pois bem, folheio o
Diário do Amazonas (só pra assinantes) e leio a manchete: "Preso após furto de celulares". No corpo da matéria, constato que o surrupiador se chama Salatiel Neves Pimenta.

Com esse nome esquisito, ficou fácil lembrar que Salatiel foi por mim condenado a 5 anos e 04 meses de reclusão, por crime de roubo. Cumpriu parte da pena e, agora, após progredir de regime (passou do semi-aberto para o aberto), ganhou as ruas e voltou à delinquir.

Se o Blog não tivesse o espírito lúdico que eu tento imprimir, deveríamos estar a debater os motivos que levam uma pessoa como Salatiel a não se firmar no meio social. Prefere ou é jogado de volta para o mundo do crime? Com certeza o meu amigo e colega Luis Carlos Valois, juiz da vara de execuções criminais, com toda a inteligência e sensibilidade que lhe é peculiar nos ajudaria a entender o circulo vicioso que atinge a maioria dos condenados.

Mas, como a pretensão do blog é outra, fica aqui somente o lamento pelo destino do Salatiel.

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