sexta-feira, 6 de julho de 2007

Bom Conselho


Por Leila Jalul*

Não dispenso um bom conselho, venha de onde vier, chegue de onde chegar. Como caldo de galinha e prudência, um bom conselho não faz mal. Não dá congestão nasal nem derrame cerebral.

Outro dia, um anônimo me mandou ler mais para poder falar sobre política. Esse não é um sábio e excelente conselho, mesmo partindo de um anônimo? Não vou esquecer nunca! E mais: vou agradecer eternamente. Até arrisco confirmar que quanto mais se lê, mais se constata que não se sabe nada.

Já expressei minha opinião sobre o anonimato na internet. Também já revelei que falar de política não me agrada. Porém, não somente eu, na condição de mulher inculta, mas todas as mulheres podem, e devem, tanto quanto possível, se arriscar a falar sobre tudo, inclusive sobre outros assuntos particularmente considerados exclusivos do “universo” masculino. Aspeei por entender que o termo é muito amplo quando se quer falar de um “mundinho”.

Começando pelo Futebol, a mulher já está ultrapassando o alambrado e atuando no gramado. Largou o avental e adotou o apito. Afora as Marias Chuteiras, claro! O negócio delas é cama e pensão judicial. São pouquíssimas as juízas e bandeirinhas e cometem lá suas besteiras. A carreira é nova, afinal. Mas elas estão chegando, cheias de graça. Enfrentam a máfia das federações e o cerco agressivo dos musculosos em campo. Alguém já ouviu falar em máfia do Vôlei? É meu esporte preferido.

Na política, ui, Jesus! É barra!

Vale contar uma historinha que tive que ouvir calada, imóvel e assustada. Aconteceu num vôo entre Brasília e Vitória, com conexão em Minas. Após o embarque dos mortais comuns, entram uns dez homens de paletó e gravata, exalando uma grande confusão de perfumes franceses. Percebi que eram políticos, mas não os identifiquei, exclusive um, afastado da presidência do PSDB por conta de ter , “supostamente”,recebido dinheiro do valerioduto (é com letra minúscula mesmo. A senvergonhice é minúscula e tem que ser tratada como tal). Este sentou um pouco mais para trás. Só durante a viagem é que veio para perto do grupo. Por dever, inocento-o-o, ô, ô. Adoro música com ô, ô, ô.

Os engravatados falavam alto. Mesmo com as turbinas ligadas dava para quem quisesse ouvir.

O assunto era o do momento – CPI dos Correios. Num dado momento eles falavam sobre a então Senadora Heloísa Helena e sobre a também Senadora Ideli Salvati. Heloísa, foi chamada por um deles, literalmente, de PUTA. De Ideli o comentário foi mais contundente. Foi chamada de “o único macho do PT”, que só ia melhorar no dia em que encontrasse um bom macho que a “enrabasse”, entre outras coisas de baixíssimo “escalão”. O avião decolou. O assunto encerrou. O avião não caiu. Por Deus!

Mulher deve falar sobre política, sim. Deve ingressar na política, sim. Deve romper barreiras, sim. Da casa onde fui criada, sob as bênção de uma mulher, saíram uma Ministra da Eucaristia, uma Doutora em Parapsicologia, uma ex-praticante do Candomblé, um chefe de centro do Daime, um militante da igreja da Renovação Carismática, e eu, uma língua de trapo com muita vontade e muito enxerimento para falar sobre o que quiser, na hora que quiser e onde e com quem quiser, sempre assinando o que escrevo. Na pluralidade de pensares da minha casa, de meus irmãos e amigos, discute-se, sem censuras ou “recomendações indicativas”, qualquer tipo de assunto. Todos temos nomes e sobrenomes. Às vezes “chuta-se o pau da barraca”, é verdade, mas o debate é democrático e sem atalhos. Quem não gostar, pode se retirar. É também permitido. A porta da rua é a serventia da casa.

Encerrando e ainda agradecendo o conselho do machista anônimo, quero retribuir com outro conselho, aos anônimos, de um modo geral. Coisa simples de seguir, se aceitarem.

A internet não é território brasileiro. Daí se deixar correr solto o anonimato que nossa Constituição proíbe e nossa lucidez rejeita. Pode tudo, ou quase tudo. Juristas e mais juristas se debruçam e emitem opiniões diversas e divergentes. Não falo disso agora. Quero ler mais sobre o assunto. Só quero dizer que, na internet, ou fora dela, o anonimato me sugere alguns entendimentos: medo, covardia e a existência de pobres diabos que não podem, sequer, assinar o próprio nome. O anonimato é a melhor expressão do “não ser”.

Mantenho minhas opiniões e respeito as contraditórias. As anônimas, inclusive. Quando afirmei que Tião Viana tem compostura, quis e quero dizer que ele pode ter seus defeitos, mas tem educação. Tomei informações sobre seu suplente e reafirmo que, as que obtive, foram as melhores possíveis. Sobre Sibá Machado, nada de pessoal, porém, se a suplência é aberração, ele próprio é responsável pela mudança. Deve consistir nisso a sua luta. É no pantanal que os bois de piranha fazem sentido a existência. Quem quiser e se interessar pelo assunto, reveja o Vale a Pena Ver de novo das sessões das Comissões Parlamentares de Inquérito.

De puxadeira de saco não tenho nenhum sinal. O puxasaquismo é um atributo dos pobres de espírito e dos necessitados das esmolas e restos do poder. Estou fora do rol. Meu dote de riqueza espiritual e o grau de minhas necessidades materiais dispensam a pecha.

Quero ler mais, quero ler sempre. De Proust ao Almanaque Capivarol, do Guia 4 Rodas ao meu bom Mário Quintana. Quero reler o que não digeri. Vou reiniciar a leitura do verso da página da folhinha (calendário). O santo do dia tem muita importância. A leitura nos leva ao paraíso ou ao inferno. Vou fazer as pazes com Dante e achar que Adelaide Carraro também é literatura. Afora o Lair Ribeiro e o mestre dos magos Paulo Coelho e similares, quero ler tudo.

Enquanto tiver visão, vou absorvendo. Quando não mais, alguém lerá para e por mim. Sempre será pouco. Enquanto escrever, ou mesmo que ditando, abaixo estará a minha maior marca: meu nome.

E tenho dito!

* Leila Jalul é procuradora aposentada da Universidade Federal do Acre.

4 comentários:

Anônimo disse...

Endosso tudo, principalmente, como já é de conhecimento de todos aqui, a questao do anonimato, que tambem entendo ser um ato extremo de covardia, bem traduzido como..."não ser". Bom fim de semana.

Anônimo disse...

O texto da Senhora Leila diz, exatamente, o que muitos gostariam de dizer. Devo lembrá-la do nome do tal senador por Minas. Trata-se do Eduardo Azeredo.
Engraçado, a mulher no futebol foi assunto do Programa do Jô Soares, em dois blocos, na noite de ontem. Deu para entender o que ela quis dizer com "cerco dos musculosos".
É isso aí.
Bom final de semana para os leitores do blog e para o Carlos.
Pietra Carreras

Em tempo: comprem a Playboy. A moça está lá. rsrsrs

Anônimo disse...

Sou um anônimo convicto e não tenho crises de identidade.Nem Úlcera, muito menos gastrite.Tudo é um passatempo, alguns com responsabilidade como escrever nesse blog.Certa vez um alcoólatra americano registrou:"I DRINK, I GET DRUNK, I FELL DOWN... NO PROBLEMS". É isso, melhor ser um anônimo com pseudônimo "ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo". Abraços

Anônimo disse...

High, você é quem manda no seu pedaço. Concordo com tudo. Até vale dançar homem com homem, e mulher com mulher. Uma vez o Bin Laden me falou que iria tocar fogo no meu apartamento. Fiquei muda. Não seria besta de redarguir. Afinal das contas não tenho nem uma nova, muito menos uma velha opinião formada sobre nada.
E assim caminha a humanidade.
Anônima e feliz.
Me queira bem.
Leila Jalul